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Luján, cidade a uns 68 km de Buenos Aires, possui duas grandes atrações que prometem ao visitante uma experiência inesquecível: o zoológico e a Basílica de Nossa Senhora de Luján. As imagens nesta página dizem muito mais do que qualquer coisa que eu possa escrever sobre essas atrações, mas as palavras deixadas aqui acrescentam detalhes dos bons momentos vividos nessa cidade.
Acordamos um pouco tarde para ir a Luján porque o dia anterior em Buenos Aires tinha sido bem cansativo, com muitas caminhadas e poucos intervalos para descanso. Por causa do atraso, chegamos ao ponto de ônibus na Plaza Itália (é de lá que sai o ônibus para Luján) por volta das 10 da manhã. Considerando a duração da viagem de Buenos Aires a Luján, quase duas horas, e todas as coisas boas que você pode desfrutar no zoológico da cidade e, depois, na basílica, este horário já é tarde (o zôo abre às 9).
Da estação de metrô (subte, na Argentina) da Plaza Itália (em Palermo) até o ponto de ônibus foram dois minutinhos. O que demorou foi entender em qual dos ônibus de número 57 embarcar. Já estávamos entrando no ônibus 57 (Linea 57 B) errado quando o motorista nos avisou que para Luján o ônibus 57 era outro (ainda bem que lhe perguntamos sobre o destino daquele bus), em um ponto a apenas alguns passos mais adiante. Por isso, se você for a Luján pelo mesmo roteiro, cuidado para não pegar o ônibus errado porque os dois de número 57 têm seus pontos praticamente um do lado do outro. O 57 que vai para Luján demora mais para passar; ficamos uns trinta minutos esperando por ele debaixo de um sol de rachar, pois o verão de Buenos Aires é quente mesmo, igual ao do Rio de Janeiro. Essa espera é que foi o começo da parte ruim da viagem porque o percurso também foi desagradável. O ônibus que nos levou era velho (no Rio de Janeiro, com certeza, não passaria na vistoria), não tinha ar condicionado, e suas janelas só abriam até a metade. Não preciso nem dizer que viajar naquele calor foi quase que insuportável. Porém, não me arrependi nem um pouco da viagem porque a recompensa que tive depois me fez esquecer qualquer mal-estar.
Antes de começar a falar do zôo de Luján, duas dicas. A primeira delas é: tenha o valor da passagem em moedas por causa da máquina que fica na parte dianteira do ônibus, que é onde você deve depositá-las. Caso contrário, o mais prudente é comprar, na bilheteria da Plaza Itália, o bilhete de volta também. E foi o que nós fizemos. Se você deixar para comprar a volta no ponto do zôo de Luján e não tiver as moedas, desconfio que terá problemas para embarcar porque lá não é o ponto final do ônibus e não há a bilheteria. Por isso, é melhor se prevenir. Em janeiro de 2009, a passagem do trajeto Plaza Itália-Luján-Plaza Itália custava 20 pesos. A segunda dica é pedir para o motorista avisar quando chegar ao ponto do zôo porque é difícil identificá-lo. Fica na estrada, a uns 15 minutos do ponto final (na basílica).
O zoológico de Luján, até onde eu saiba, é o único do mundo que permite interação dos visitantes com os animais, inclusive os selvagens, tais como leões e tigres. Para entrar nas jaulas desses animais adultos, o visitante precisa ter idade mínima de 16 anos. Tigres, leões e macacos, por exemplo, posam para fotos lado a lado com você. Você é quem decide se só quer chegar perto do animal ou se também quer tocá-lo, acariciá-lo, ou alimentá-lo. Cada ato desses exige certo grau de coragem e mais ainda de confiança, pois tudo o que você não deve fazer é mostrar-se amedrontado, se afastar dos animais com movimentos bruscos, afinal, não vão entender por quê. Nascidos em cativeiro, os animais do zôo de Luján são criados de modo a conviver amigavelmente com as pessoas e, por isso, são mansos. Mas, é claro que você não pode entrar sozinho nas jaulas; o zôo garante a segurança do local com os profissionais especializados (cuidadores), que são as pessoas acostumadas a cuidar desses animais e, desnecessário dizer, com muito respeito e carinho.
Já sabendo do que nos aguardava, a expectativa ia aumentando à medida que nos aproximávamos da entrada do zôo. À primeira vista, o local parecia meio abandonado, pois não observamos movimento de visitantes, mas não demorou muito e apareceu quem nos atendesse. Além do contato com os animais, o ingresso dá direito a uma volta no elefante e no dromedário e a um passeio de trenzinho que percorre uma pequena parte do zôo onde se encontra uma exposição de tratores (Museo de tractores), maquinaria agrícola e carros antigos. Mas o zôo de Luján oferece mais ainda: visitas guiadas, lugar para parrillas (churrasco), cantina, um ótimo restaurante e uma loja de souvenirs. Os adultos também podem andar a cavalo (paga-se à parte) e as crianças a pônei. Enfim, este era um resumo do zôo que o ingresso nos antecipara. Agora só faltava comprovar...
Assim que entramos no zôo, fomos descobrindo as primeiras jaulas que exibiam os “filhotes” de tigres (já eram um pouco crescidos e, por isso, tinham dentes bem grandinhos). Mas não víamos ninguém por perto e perguntávamos a nós mesmos de que forma iríamos tocar nesses animais se não havia nenhum guia para nos orientar. O fato é que, por ser janeiro, um mês de férias de verão dos argentinos (que, geralmente, preferem fugir do calor), e uma quinta-feira, o movimento no zôo estava bem pequeno. Mas depois de uns cinco minutinhos apareceu a cuidadora que nos convidou para entrar na jaula desses tigres. Foi muito emocionante porque nunca tinha estado corpo-a-corpo com nenhum animal selvagem. É claro que tive medo, mas a cuidadora nos transmitiu muita confiança, e os tigres, na verdade, nem se importaram com nossa presença. Já estão acostumados com a visita das pessoas e o calor do dia os deixou um tanto preguiçosos.
Depois de experimentar a emoção de tocar nos tigres, foi a vez de testar minha coragem com os filhotes de leões, mas, também, nem tão filhotes assim. Esses já estavam mais espertinhos, deram mais medo do que os tigres, porém, aos poucos, o temor foi dando lugar ao encantamento e à confiança. Quando cheguei a esse estágio de sentimento, pedi para a cuidadora me deixar dar leite para o “leãozinho”. Foi uma emoção e tanto quando senti o leão lamber minha mão com o leite que havia escorrido da garrafa. Logo depois, outros visitantes quiseram fazer a mesma coisa (entraram uma média de 7 pessoas na jaula) e gostaram da experiência.
Saí da jaula dos filhotes de leões alegre como uma criança. E ainda tinha tanta coisa para ver pela frente que, antes de pensar na próxima aventura, resolvi relaxar um pouco passeando pelo parque, conhecendo os animais que todos nós consideramos mais inofensivos. Foi quando me distraí com os cabritos, os coelhos, os patos, as galinhas e, depois, os macacos...
Passamos em frente à jaula dos macacos, e um todo pretinho (veja foto acima), em particular, nos chamou a atenção. Ele pulava nas grades da jaula e as mordia, parecendo que queria exibir seus dentes. E que dentes! Logo imaginamos que naquela jaula não era permitida a entrada de visitantes, mas, engano nosso. Apareceu uma visitante que se arriscou entrar junto com o cuidador e uma fotógrafa. E foi exatamente aquele macaco preto que pulou no colo dela e permaneceu ali por um minutinho. A coragem da moça foi o impulso que eu precisava para entrar. Só que enquanto eu esperava pelo macaco preto se chegar até a mim — ele não estava querendo nada comigo — sinto um dos outros menores pular na minha cabeça. A minha reação foi ficar quieta e fechar os olhos (acho que tive medo que suas unhas entrassem nos meus olhos) enquanto ele brincava com os meus cabelos e mexia no meu rosto. Meu sentimento foi um misto de receio e empolgação que se resumiu no final em sucessivas risadas depois que eu deixei a jaula.
A vez de fazer amizade com o elefante estava chegando, mas tivemos que esperá-lo acabar de tomar banho debaixo daquele sol de verão. Era um filhotão que parecia estar se deliciando com aqueles jatos d’água que o seu cuidador lhe jogava. Mas, trabalho é trabalho e o elefante não podia demorar muito para voltar ao ofício. A volta que damos no elefante é bem curtinha mesmo, leva um minutinho mais ou menos, é só o tempo suficiente para sentir a sensação e posar para uma foto (ele também faz pose!). E, para quem não resistir, dá para tocar a pele do paquiderme — bem áspera, há de se dizer.
Depois de montar no elefante, experimentar o lombo do dromedário não seria tão desafiador assim, ainda mais sabendo que o cuidador te acompanha a pé, segurando o animal por uma corda. Igual ao do elefante, o passeio é bem ligeiro, é só para sentir o gostinho mesmo. Para não terminar a minha aventura só com aquilo, perguntei se eu podia dar comida na boca do dromedário. O cuidador, solícito, respondeu pedindo-me para lhe dar zanahorias (cenouras). Não poderia imaginar que essa distração seria mais emocionante do que a de sentar no dorso daquele animal. Afinal, aquela boca do dromedário, cheia de dentes, quase encostando no meu rosto a cada vez que ele queria uma cenoura, tornava a experiência não só divertida como também corajosa.
Àquela altura, já não deu mais para distrair a fome e, então, fomos almoçar no próprio zôo até porque não há outras opções por perto. Mas isso não chegou a ser um problema porque a simpatia das pessoas que nos atenderam e o sabor da comida que escolhemos foi tudo o que precisamos para sair de lá muitíssimo satisfeitos. O estabelecimento estava especialmente espaçoso para mim e meu marido naquele momento, os únicos no restaurante, pois, como expliquei, o zôo contava com pouquíssimos visitantes. Nada mal; faltou gente, mas sobrou tranquilidade para nós.
Depois do almoço fomos ver mais bichos, naturalmente. O que dizer dos filhotinhos de tigre (veja foto acima), por exemplo? Claro, não dão medo nenhum, parecem gatinhos e é uma delícia de fofura segurá-los e acariciá-los. A jaula desses pequenos felinos é a preferida da criançada, pois para adentrá-la não é preciso ter a idade mínima de 16 anos. Mas a história e a idade é outra com os tigres adultos. Quando chegou a vez de tocar nestes, lá veio o frio na espinha de novo. Mas o medo vai aos poucos se dissolvendo quando você percebe a aparência branda desses animais. Entretanto, esse motivo não nos faz sentir menos corajosos.
A vez da leoa adulta também chegou e a sensação de medo foi a mesma, mas o impacto que esta fêmea me causou foi um pouco diferente. Achei a leoa o mais belo e imponente de todos os animais que ali vi. Depois, fui brincar com os leões-marinhos, um ainda era filhote, e o espírito de criança voltou a baixar em mim. Como é fácil esse zôo fazer uma pessoa rir! O “barato” de se fazer com esses simpáticos gorduchos é jogar-lhes comida e ouvi-los pedir bis (ficar com as mãos pegajosas e fedendo à sardinha é o de menos). Hoje me sinto frustrada por não ter entrado na área deles, mas eu nem sabia que poderia (acho que era permitido, pois mais tarde vi fotos na internet de pessoas abraçadas a eles) porque além de não ter visto ninguém dentro do cercado, não aparecia nenhum cuidador do zôo ali para nos orientar. Aliás, um ponto negativo que eu atribuo ao estabelecimento foi a ausência de cuidadores por perto em alguns (somente alguns) momentos. O fato de o zôo estar quase que vazio seria um motivo a mais para nos dar maior atenção. Mas, há de se dizer que, quando presentes (às vezes é preciso chamar ou esperar por eles), são muito atenciosos.
Lembra que eu falei que o ticket dava direito a uma volta no trem para ver a exposição de veículos? Pois é, não abrimos mão nem disso para curtir o máximo que aquele zôo podia nos oferecer. E junto com duas crianças e um senhor (muito simpático e que nos fez o favor de nos tirar uma foto), percorremos o pequeno trilho ao mesmo tempo em que nos divertíamos com aquele “brinquedo” que pode ser considerado mais apropriado para crianças.
O zôo de Luján é diversão para a família inteira. O ideal é se programar para passar um dia inteirinho lá para ter tempo de preparar uma parrilla para almoço ou fazer um piquenique. Espaço é o que não falta, até para uma piscina. Quer programa melhor para um dia de verão? Mas para turistas como nós, que tínhamos cada minuto contado no relógio, o dia não seria perfeito se não conhecêssemos também o que há de mais sagrado na Capital da Fé (La Capital de la Fe).
A uns 15 minutinhos de ônibus do zoológico, está outra atração que nada tem a desafiar a sua coragem, mas que tem muito para sobressaltar-lhe pela beleza que a fé ajudou a construir: a Basílica de Nossa Senhora de Luján. Para conhecê-la depois de se despedir dos animais, basta pegar o ônibus (paga-se outra passagem, essa bem mais barata) no mesmo lugar onde você desembarcou para chegar ao zôo e esperar chegar ao ponto final, pertinho do santuário. Simples e fácil assim.
Já ao avistarmos a basílica de longe, ficamos extasiados pela sua imponência. Até chegar à sua entrada, percorremos um caminho comprido ladeado por barraquinhas que vendem várias lembrancinhas religiosas que, ao serem adquiridas, são acompanhadas de uma calorosa vibração ao som da palavra “Suerte!”, proferida pelos vendedores. E com isso aumentou a minha fé de que dali eu sairia com muita sorte, mas antes, católica que sou, precisava fazer os meus pedidos aos pés de Nossa Senhora de Luján. Por isso, não demoramos muito para estarmos no interior da igreja a procurar pela imagem sagrada.
A imagem de Nossa Senhora de Luján lembra muito a da Nossa Senhora de Aparecida, aliás, a de Luján chegou à cidade vinda de São Paulo, Brasil, conforme tomei conhecimento no site <http://pt.wikipedia.org/wiki/Nossa_Senhora_de_Lujan>. Mas não é só pela imagem da santa mais idolatrada pelos argentinos que você se sente encantado. Tudo ao redor e pelo interior do templo é igualmente lindo, de uma grandiosidade que as fotos por si só não são capazes de mostrar. Vale a pena percorrê-lo todo por dentro e descobrir diferentes altares, inclusive uma pequena capela onde um caderno de orações lhe espera de páginas abertas. Não tive dúvidas e também abri meu coração, deixando registrado ali o meu maior pedido.
Saímos da igreja com ela prestes a fechar, eram aproximadamente 7 horas da noite, e fomos escolher um dos restaurantes que, estrategicamente localizados, nos convidavam para um pequeno descanso. As ruas adjacentes à basílica se repletam de simpatia com a quantidade de opções para fazer compras de recuerdos e refeições. Até o internacional McDonald’s está lá, mas optamos pelo o que a Argentina poderia nos oferecer de mais típico: uma cafeteria.
Nossa visita à basílica de Luján e seus arredores foi muito corrida. Quando chegamos lá, praticamente no final da tarde, já estávamos muito cansados e, por isso, não quisemos perder o horário do ônibus que nos levaria de volta a Buenos Aires (não se esqueça de se informar qual é o último horário do ônibus se você sair no mesmo dia para Buenos Aires). Além disso, a última lembrança que tínhamos de uma viagem de ônibus não era boa, mas, para nossa surpresa, o ônibus dessa vez era relativamente novo e tinha ar condicionado! Aliada a esse fator e à temperatura bem mais amena à noite, nossa viagem de volta foi muito mais confortável.
E assim acabou nosso tour em Luján, que incluiu apenas duas — as maiores — atrações, mas que valem por muitas. Entretanto, Luján tem mais para agradar, basta conferir no site oficial da cidade <http://www.lujanargentina.com/>. Para saber mais sobre o zôo, o site <http://www.zoolujan.com/> é o recomendável; você pode mandar a sua pergunta que eles respondem para seu e-mail. E não se esqueça de que os dados descritos aqui, tais como preços e número de ônibus, estão de acordo com o mês de janeiro de 2009. Portanto, informe-se sobre possíveis atualizações. E se você já teve a oportunidade de curtir essa cidade, deixe aqui seus comentários e suas dicas para os próximos viajantes!
Um comentário:
Ajudou muito! Muito obrigado!!
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